segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

HUMILDADE x PODER - Parte 1


HUMILDADE x PODER - Parte 1

Naquele dia percebi o Sr. Nessim Dayan apreensivo, um tanto ansioso. De repente ouço o toque da campainha – alguém estava à porta do escritório. Fui logo atender. Abri a porta com a atenção de costume e recepcionei um senhor baixinho, franzino. Este me cumprimentou com um sorriso franco no rosto. Falou para mim algumas palavras em seu idioma de origem, o Hebraico, que
eu confesso: não entendi nada. Mas deu prá perceber que eram palavras gentis.

Logo o Sr. Nessim surgiu e foi ao seu encontro um tanto eufórico, um tanto solene. O recebeu com um sorriso largo no rosto e com um ar de gravidade, de honra, com a dignidade de quem recebe uma celebridade.

Passado algum tempo, aquele “senhorzinho” decide ir embora. Ao sair, olha para mim, vem ao meu encontro e me cumprimenta - fala outras palavras que, mais uma vez, não as consegui entender, mas julguei, pelo seu olhar e pelo jeito simpático, que eram palavras gentis. À porta, despede-se do Sr. Nessim, e segue o seu caminho.

Tendo saído, Sr. Nessim volta-se para mim e pergunta: Samuel, você sabe quem é este homem? Respondi prontamente que não sabia. O Sr. Nessim, com aquele olhar solene, faz uma breve pausa e declara: General Uzi Narkis! (Comandante das Forças de Defesa de Israel durante a Guerra dos Seis Dias – juntamente com os generais Moshe Dayan e Yitzhak Rabin, entrou em Jerusalém quando da vitória desta guerra).

Começamos então a conversar longamente sobre esta ilustre visita. Eu disse ao Sr. Nessim que estava completamente impactado com a maneira gentil e simples como aquele personagem da história, um general tão importante, havia me tratado, sendo eu um simples Office-boy.

Na seqüência, narrei ao Sr. Nessim sobre um episódio que eu presenciei há alguns dias antes:

Atendendo a um pedido do Sr. Nessim, fui a uma empresa, num endereço próximo, para concluir uma operação de câmbio. Fui imediatamente conduzido à sala do sócio-diretor daquela empresa. Enquanto eu aguardava a chegada do dinheiro, aquele executivo mandou vir um funcionário. Quando este chegou, sequer conseguiu respirar – imediatamente foi atropelado por uma enxurrada de palavras grosseiras e agressivas, xingamentos e muita, muita humilhação – e isso tudo ali, na minha frente!

(Abro este parêntesis para registrar minha homenagem ao Sr. Nessim Dayan, que pelo tempo que o servi como Office-boy – nos quase 7 anos que o servi, sempre me tratou com a generosidade e a grandeza das almas mais excelentes. Tanto o Sr. Nessim, quanto sua esposa, Drª Evelyn, me tornaram prisioneiro de seu exemplo de vida e trato para com as pessoas humildes. Eu os amo, e declaro toda a minha gratidão. Não vejo que fui um funcionário, vejo que Deus me colocou ali como um estagiário para a vida, me entregando nas mãos de um excelente professor, um mentor, um verdadeiro mestre. Há traços da minha personalidade, do meu jeito, do meu caráter, das minhas falas inclusive, que reputo terem sido enxertados em mim, dada a minha admiração por este casal. Deus os abençoe ricamente, e que vivam muito mais que 120 anos!)

Após eu ter exposto o episódio vivido e o quanto fui tocado por um sentimento de compaixão por aquele funcionário, notei que o semblante do Sr. Nessim mudou, numa clara expressão de solidariedade com o meu sentimento. Neste momento, com a sabedoria de sempre, o Sr. Nessim me diz: Samuel, “QUEM TEM PODER GERALMENTE É HUMILDE, POR QUE SABE QUE TEM PODER. NÃO PRECISA HUMILHAR NINGUÉM PRÁ MOSTRAR QUE TEM PODER. ELE SABE QUE TEM PODER”.

Há algumas postagens anteriores eu propus o seguinte exercício reflexivo: Na sua opinião, seria possível haver alguma conexão entre Humildade e Poder?

Ao longo da minha vida conheci muita gente, das mais ricas às mais pobres; das mais cultas às mais simples. Conheci gente que nunca sentou num banco de escola, mas tinha a sabedoria de fazer sentar qualquer doutor.

De todos os tipos que eu conheci na vida, um em especial sempre me fascinou: aquele tipo de pessoa que mesmo sendo uma autoridade no campo da sua ciência, do seu conhecimento, da sua experiência, nunca se esqueceu do primeiro passo da sua vida. Do quanto este foi importante. Do quanto este precisa ser reverenciado. Nunca se esqueceu da mais absoluta ignorância do começo. Dos erros do começo. Dos tropeços do começo. Da pequenez do começo.

Ninguém nasce grande! Para ser grande um dia, tem que ser pequeno hoje. Em sendo grande, esquecer que um dia foi pequeno é denunciar clara e inequivocamente que a sua altivez o consumiu de tal maneira que lhe impediu de aprender a ser gente. Coitado, tornou-se um pobre de espírito – agora, precisa de dinheiro para comprar amigos, atenção, reconhecimento e glória. Precisa humilhar as pessoas, olhar com altivez, ser inacessível, distante. Precisa a todo tempo mostrar seus diplomas - como se fossem pirulitos de barbearia*, para chamar a atenção para si; precisa de holofotes – pagos é claro -, precisa mostrar que tem poder.

Quem de fato tem poder geralmente é humilde. É reconhecido pela sua luz, não precisa de holofotes. Quem tem poder sabe que tem poder. O poder do reconhecimento dos tempos de sua pequenez, do seu sacrifício, das noites não dormidas, dos choros, das desesperanças, dos fundos do poço, da resiliência, da resistência, do puxar a corda pro lado certo, do lutar contra a maré. Quem tem poder carrega consigo as marcas e as cicatrizes das muitas guerras que precisou travar. Estas marcas, estas cicatrizes, os fazem lembrar daquilo que foi um dia.

Quem tem poder chora. Isso mesmo, chora, chora sim! Não tem vergonha de chorar não. Chora o choro da gratidão, o choro da vitória, o choro lindo do poder. Quem tem poder tem a leveza e a desenvoltura do abaixar-se, de se colocar pequeno de novo, de se aproximar de seu semelhante e dizer: vem comigo, vem! Levanta a cabeça, anda! Olha prá mim, tá vendo essas marcas?

São as marcas de quem um dia esteve no seu lugar.

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* Pirulitos de barbearia, ou postes de barbearia, eram dois postes listrados geralmente nas cores vermelho, azul e branco, que eram instalados à frente da barbearia para chamar a atenção das pessoas que passavam. Geralmente eram luminosos e giravam.


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